Conexões culturais além das fronteiras: estudo e pesquisa afrodiaspórica no Cariri cearense

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Por Túlio Henrique Pereira

Destaca-se, nas últimas décadas, a crescente atenção aos estudos da história sobre as populações negras e indígenas no Cariri cearense, bem como iniciativas do governo para valorização das conexões culturais e de fronteira. Eventos como o Artefatos da Cultura Negra, o Encontro Saberes da Caatinga, o Seminário Negras e Negros no Ceará, e a presença dos núcleos e grupos de estudo e pesquisa, como o GEPAFRO, NIAFRO, NEGRER, GRUNEC, NZINGA, NEABI/IFCE, LIMBO, Terreiro das Pretas, entre outros, representa um compromisso com a pesquisa e a divulgação das contribuições afrodescendentes na região.

A legislação desempenhou um papel crucial na ampliação dos estudos relacionados à história e cultura negra e indígena, em particular por meio das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, incentivando currículos mais inclusivos e o financiamento de pesquisas no campo temático. Nomes como João Luís do Nascimento Mota, Zuleide Fernandes de Queiroz, Maria Telvira da Conceição, Cícera Nunes, Renata Aparecida Felinto dos Santos, Edson Soares Martins, Ana Sara Ribeiro Parente Cortez, Ana Isabel R. P. Cortez, Darlan Reis, Ana Cristina de Sales, Ana Paula dos Santos, Meryelle Macedo da Silva, Henrique Cunha Junior, Túlio Henrique Pereira, Reginaldo Ferreira Domingos, Maria Macêdo e tantos outros, estão contribuindo significativamente para o entendimento da diversidade afro-brasileira e da rica herança cultural no Cariri cearense.

Segundo a professora Cícera Nunes, da Universidade Regional do Cariri (URCA), no artigo Narrativas de mulheres negras: Cultura de base africana e educação no Cariri Cearense (2022), “o cariri cearense se destaca pela forte presença de povos negros que, ao longo do processo de configuração do território regional, especializou suas culturas e forjou um patrimônio cultural material e imaterial, o qual nos revela parcela do legado africano”. Essa afirmação revela contribuições históricas dos negros na região. 

Ainda segundo a Dra. Cícera Nunes, a historiografia oficial busca anular as marcas ancestrais afrodiaspóricas na região do cariri cearense, em face do racismo estrutural. Esse fato também afeta os currículos escolares, especialmente nas universidades, por meio do epistemicídio, ressalta a negligência dessas marcas ancestrais, em parte devido ao racismo sistêmico que influenciou tanto os currículos educacionais, quanto as narrativas históricas.

O epistemicídio ressalta a marginalização e apagamento das perspectivas e conhecimentos afrodescendentes na academia e na educação em geral. Superar esse desafio requer não apenas uma mudança curricular, mas também uma reavaliação dos padrões de pesquisa e da valorização de diferentes fontes e vozes históricas.

Maria Macêdo e Renata Felinto são artistas visuais e pesquisadoras. Ambas contribuem a seu modo, para a visibilização visual dos corpos negros no Cariri e no mundo. Maria Macêdo desenvolve trabalhos artísticos a partir da ciência da mata, na qual ela imprime impressões visuais da memória e dos corpos negros em evidência. Enquanto a Dra. Maria Felinto, professora da Universidade Regional do Cariri, enfatiza em suas obras, exposições e pesquisas, as vozes que foram apagadas e invisibilizadas ao longo da história, dando ênfase ao protagonismo das mulheres negras.

O esforço contínuo de estudiosos, pesquisadores, artistas e educadores no Cariri cearense para valorizar a história afro-brasileira e afrodiaspórica é fundamental para a construção de narrativas mais abrangentes da história brasileira. Ao reconhecer e celebrar as contribuições das populações negras e indígenas, esses esforços ajudam a criar uma sociedade mais consciente de sua diversidade sociocultural.