Por Túlio Henrique Pereira
A trajetória da diversificação e do avanço em pesquisas e estudos acadêmicos relacionados à problemática racial no Brasil tem sido recente, e remonta ao estabelecimento do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1959. Nas últimas décadas tem se registrado, nos estudos da contemporaneidade, uma crescente conscientização sobre a importância de se explorar a história e as vivências da população afrodescendente.
As pesquisas têm registrado avanços significativos para além das narrativas tradicionais sobre escravidão e racismo. O estudo da história afro-brasileira busca compreender as relações entre o continente africano, sua diversidade, anterior aos contatos árabes e europeus, as relações interétnicas experimentadas nos períodos colonial e imperial brasileiros. África e Brasil, protagonizam um universo de saberes capazes de revelar dinâmicas que transcendem o escravismo, perpassando a cultura, as sensibilidades, a economia, a arte, a linguagem, as visualidades e os costumes.
A professora Maria Telvira da Conceição, no trabalho “Decoloniais ou antirracistas? Um panorama sobre as ações e reflexões dos professores mestres do ProfHistória acerca da problemática racial no ensino de História atual”, realizou um levantamento bibliográfico no banco de dissertações da EduCapes, cujo universo de referência possui mais de 4,6 mil arquivos textuais. Destes, foram mapeados 161 trabalhos voltados para o ensino de História e à problemática racial no Brasil.
Ao tomar como referência o mapeamento realizado pela Dra. Maria Telvira, 13 categorias de trabalhos foram elencadas, evidenciando a abrangência diversificada de tópicos, com as seguintes temáticas: pertencimento e identidade racial, representações sobre o povo negro, religiões afro-brasileiras, implementação da Lei 10.639/2003, raça, racismo e antirracismo, literatura afro-brasileira, movimento negro, ações afirmativas na escola, tradições materiais do povo negro, historiografia sobre o negro, mulher negra e ensino de História da África no Brasil.
A expansão temática é crucial para a compreensão abrangente da experiência das populações negras no Brasil e na diáspora africana. E isso oportuniza análises aprofundadas das influências culturais, sociais, religiosas e econômicas, além de contribuir de forma significativa para a construção de novas narrativas em que a população negra seja protagonista.
A referência às ações e reflexões dos professores formados pelo ProfHistória, trazida por Maria Telvira, indica engajamento ativo por parte dos educadores no aprimoramento do ensino de história, garantindo que as perspectivas afrodescendentes sejam integradas de maneira significativa nos currículos escolares. Isso é crucial para desafiar estereótipos, combater preconceitos e promover uma educação mais inclusiva e equitativa.
É importante destacar que os avanços na pesquisa acadêmica sobre a história afro-brasileira não apenas enriquecem o entendimento do passado, mas também contribui para modificar os modos de compreensão no presente e no futuro. Ao ampliar o conhecimento sobre a diversidade cultural e étnica do Brasil, essas pesquisas ajudam a construir uma sociedade mais justa. Instituições públicas e privadas devem continuar apoiando pesquisas para que se rompa com estereótipos negativos em relação a questões raciais e se construa uma sociedade democrática e de oportunidades.